Meditar não trata de alcançar alguma coisa, mas de estar presente. As técnicas de concentração na respiração ou em algo sugerido por quem guia a meditação têm como efeito um estado de relaxamento inicial e tranquilidade mental.  Se praticada regularmente, a meditação contribui para a melhora na qualidade do sono, diminuição da pressão alta, crises de ansiedade e estresse e atua como auxiliar no tratamento de depressões, desde que autorizada por profissionais da área de saúde mental. Lembremos que meditar traz desafios: a permanência na postura pode ser inicialmente desconfortável e a aparente falta de controle sobre os pensamentos. Meditar diariamente é essencial para melhorar a postura e sentir a quietude interna e externa. É importante esclarecer que meditar é abrir mão das expectativas e busca de algo específico. Tudo bem se o que te leva a meditar seja melhorar a qualidade de vida ou sentir mais serenidade no dia-a-dia, mas a meditação nos convida a deixar os objetivos e expectativas de lado e somente testemunhar o momento presente.

Este é um pensamento equivocado. A meditação não interrompe pensamentos nem “esvazia a mente”. Durante a meditação, nos colocamos  como observadores do fluxo de pensamentos e sensações, abrindo mão de qualquer controle. Deixamos que a mente manifeste sensações e emoções, para que vejamos de forma compassiva, ou seja, como são sem a sombra dos julgamentos habituais. Muitas pessoas se queixam que não podem meditar, porque são muito ansiosas. Na verdade, a maioria das pessoas que meditam buscou a meditação, porque sentiam que algo ia muito mal em suas vidas, como foi meu caso. Meditar não é um estilo de vida descolado, tendência ou produto a ser consumido para alcançar a felicidade. Meditar é o convite para nos aquietarmos e observarmos aquilo que nos forma, sem apego ou aversão, transformando nossos sofrimentos em sabedoria.

Para que a meditação flua, é necessário que a postura esteja bem orientada. Podemos meditar em cadeiras (não reclináveis), sentados em almofadas no chão de pernas cruzadas ou sentados sobre os calcanhares. Em todos os casos, é essencial que a coluna permaneça ereta e encaixada com o quadril. Isso melhora a respiração e ajuda a manter a postura imóvel. Evite deitar para meditar, pelo risco real de acabar cochilando! Ao guiar meditações, dou ênfase na construção de uma postura adequada considerando o que cada pessoa pode fazer. 

Meditar não requer crença em algo superior ou filiação a alguma crença religiosa. Buda Xaquiamuni desencorajava qualquer tipo de envolvimento em questões metafísicas, questões relacionadas à origem do universo, vida após a morte, se há um deus supremo. Esses questionamentos são derivações de nossa inquietação interna com nossa própria finitude e angústia contínua. Ao invés de buscar uma resposta externa, Buda encorajava o caminho interno como meio de libertação do sofrimento. Contudo, Buda sempre ensinou o darma para inumeráveis seres, cuja existência transcende a compreensão habitual humana.  Ou seja, Buda nunca descartou a existência de consciências mais sutis do que a humana, somente se concentrou em orientar a prática que o levou ao despertar. Cada pessoa tem a liberdade de construir uma vida dentro de suas afinidades espirituais, sem necessariamente praticar uma religião e todas podem meditar.

Dissemos anteriormente que meditar não requer a crença em algo específico ou ter religião. Da mesma forma, podemos meditar em nossa espiritualidade e crença incorporando elementos que sejam compatíveis com a natureza da meditação. A própria tradição cristã conta com práticas meditativas de origem ancestral, sustentada pelos padres e freiras do deserto e contemporaneamente pela comunidade da Meditação Cristã. O importante é entender que meditar não nos leva para algo além do que já somos ou vivemos, mas aprofunda nossa intimidade com o silêncio cósmico.

Há várias técnicas de meditação, que direcionam a mente para a observação de um objeto determinado. Esse objeto pode ser a própria respiração, uma palavra ou frase repetida ritmadamente, uma imagem ou um som. Não se preocupe, você vai se distrair! A chave para entender como a meditação “funciona” é o constante retorno ao objeto de atenção a cada vez que nos distraímos. Sou habilitado a instruir meditações que vão desde a observação da respiração (samatha), passando por visualizações (tonglen, meditação com guias/ancestrais), uso de palavras e mantras (de tradições hindu, budista e cristã), a atenção plena pela meditação silenciosa (vipassana) e zazen, que é a meditação que pratico. Você pode experimentar a meditação que você sente que é mais parecida com o que você busca no momento. Caso queira mudar para outras, fala a experiência. O importante é você sentir que algo bom está fluindo da meditação, mesmo que, à primeira vista, ela pareça desconfortável. Lembre-se de que sapatos novos precisam de um tempo para se adequar aos seus pés. A meditação tem efeitos de curto prazo como sensação de relaxamento e tranquilidade, mas os efeitos transformações vêm a médio e longo prazo. Assim como a adaptação aos seus sapatos. a meditação precisa ser frequente para que a caminhada seja estável e confiante, quando não nos lembramos mais dos sapatos.  

Zazen é estar presente junto a tudo no momento. Na nossa historinha, é quando esquecemos que usamos sapatos, de tão acostumados estamos de usá-los para caminhar. É um estado meditativo no qual o observador que criamos para testemunhar o fluxo de pensamentos e sensações “sai de cena” e algo toma o lugar, que não é o “eu” que conhecemos. Esse algo é uno com tudo, flui através do espaço e do tempo e não tem objetivo/finalidade. Não podemos ensinar zazen, por ele ser um estado meditativo que acontece; tampouco é produtivo falar sobre ele, visto que transcende a compreensão intelectual. As meditações guiadas que abordam zazen são introdutórias à meditação silenciosa, com foco em postura, orientação e respiração. Uma vez preparado o terreno para a quietude, estamos abertos ao zazen.